sábado, 11 de outubro de 2008

CENTRO CIRÚRGICO DE COIMBRA

É uma casa amarela... na berma da estrada e no centro de um relvado com canteiros floridos, rodeada por uma faixa preta onde o vaivém de alguns veículos anunciam a movimentação de pessoas para intervenções cirúrgicas.
Casa bonita e requintada... mas onde o tempo não passa, a alegria se esvai e o ruído dos mais de cem veículos por minuto rodando apressados na via ensurdece...
Nada satisfaz a lentidão do tempo na cura do sofrimento humano... e a beleza esfuma-se por entre o desconforto do amargo sossego da espera.
Não! Trabalhar não é difícil! Difícil é estar parada... terrivelmente parada e sem nada que possa ajudar a mover a inércia do tempo.

6 comentários:

•.¸¸.ஐJenny Shecter disse...

No relógio as horas não passavam. Aquele dia besta depois de um feriado bem no meio da semana se recusava a acabar. Mas dentro dela, dentro do tempo dela, a hora estava a anos-luz das 16:30. Isso porque fazia bem uma meia-hora que o relógio não passava das 16:30, dizia-se. Os ponteiros sempre se recusam a seguir uma velocidade que não a deles.

Algum colega de serviço comentou alto, “Hoje dá meia-noite, mas não dá seis horas pra gente ir pra casa”. E ir para casa significava também ir para o final de semana. Todos os que ouviram a observação concordaram de imediato. Floria ficou quieta.

O pensamento dela, pelo menos naquele dia, nunca esteve naquela sala de trabalho num dos últimos andares de um edifício no centro da cidade. Floria estava longe. Muito longe. Sua quietude habitual não permitia a ninguém perceber a lonjura em que se encontrava. Talvez estivesse voando nas asas de um pássaro encantado, colorindo o mundo e conhecendo histórias de todos os lugares que ela pudesse imaginar. Talvez estivesse sentada na esquina de um dos anéis de Saturno. Ou talvez ainda estivesse numa das pequenas ilhas gregas, brincando em águas claras.

O olhar de Floria era sempre uma interrogação a quem quer que fosse a fitá-la. Como um cometa, ela apagava a luz de seus rastros para não ser descoberto o caminho por onde passava. Aliás, voava. Se ela pudesse ser definida em uma única palavra, seria etérea. As pistas que deixava de seu paradeiro eram simples versos que escorregavam de suas mãos.

Se tivesse nascido na época dos deuses antigos, dir-se-ia que Floria nascera das Musas. De qual das nove? De todas elas. Mas quem pode dizer que ela não nasceu sob o reinado dos Olimpianos? Com certeza, ninguém.

Floria observava o dia ir mudando seus matizes. A iminente proximidade da noite provocava em seu íntimo a sensação de júbilo. O firmamento ia ganhando tons cada vez mais escuros. Era a noite descortinando sua beleza. A impaciência das pessoas preenchia o ambiente. A tão desejada hora de ir embora estava chegando, finalmente!

“O tempo hoje está demorando a passar”, constatou a chefe do setor. Em seu íntimo, Floria contestava. “O tempo não passa, nós passamos por ele. O tempo não é velho e nem é novo. Não é dinâmico, mas imutável. Desde a aurora dos tempos, até o crepúsculo final”. Contudo, exatamente como a miríade dos astros que giravam sobre sua cabeça, ela preferiu o silêncio.

O abrir e fechar de bolsas e o arrastar coletivo de cadeiras indicavam a hora. Finalmente, 18 horas. Para os colegas de trabalho, era a hora de voltar para casa, encontrar os amigos para o happy hour, programar-se para um rock. Para Floria, era a hora de se encontrar com ela mesma. Irmã dos astros que era, quem reparasse bem poderia enxergar a aura lunar que a adornava. Inenarrável a sensação de sentir a noite em cada poro de seu corpo.

Enquanto as pessoas buscavam refúgio para a noite, Floria tinha orvalho de estrelas no cabelo, ensaiava seus passos de dança para a platéia cósmica e deixava sua voz desaparecer no vento. Sem esperar pelo aplauso.

Beijos e borboleteios!

Cöllybry disse...

Olá querida, a espera é sempre sofrida, uma mais que outra, mas esta é o mais...

Beijo


mu outro blog
OlharIndiscreto

Nilson Barcelli disse...

Não me lembro de estar parado, mas deve ser terrível estar parado e à espera...
Belo post, gostei de ler.
Beijinhos.

Cadinho RoCo disse...

Em alguns momentos a vida é por demais exigente.
Cadinho RoCo

Gilbamar disse...

Ah o tempo! Tão tirânico, tão exigente...nunca espera e segue indiferente a tudo e a todos.

Lindo o seu blog!

•.¸¸.ஐJenny Shecter disse...

Obrigada pelo carinho Hermínia!
beijos...
que você tenha um dia cheio de luz!