terça-feira, 22 de maio de 2012

TORMENTAS DA VIDA




Caminho na vida
aturdida isolada
algures perdida
sem rumo sem nada.

O tempo se esfuma
pela minha mão
pois não o aproveito
e não vejo jeito
de encontrar solução.

Não tenho proventos
que possam chegar
para tantos tormentos
poder aliviar.

E nestas angústias
amargas sem fim
tenho de arranjar
formas de agir
sem fugir de mim.

E o coração
apertado em vão
já nem forças tem
para procurar
o meigo invocar
das luzes do ALÉM.


Não rezo não canto
não escrevo não faço
o tempo se esfuma
na noite de bruma
deixando cansaço.

Não há quem aguente
o que a gente sente
em situações tais
e de nada adianta
fazer cara feia
ou viver a dar ais.

Há que aguentar
e tentar encontrar
formas de vencer
nesta noite escura
cheia de amargura
que nos faz sofrer.

Poeta não fala
sente come e cala
e aguenta a dor
vive o dia a dia
escondendo arrelia
semeando amor.

E neste conceito
leva a todo o preito
espalhar alegria
enquanto se amassa
na dor que amordaça
a noite mais fria!...

2012/03/24
Hermínia Nadais

segunda-feira, 7 de maio de 2012

AGONIA



O sol escaldante deixava cair os seus raios dourados sobre o corpo de bronze alquebrado sob o peso da enxada que removia lentamente a terra do carvalhal amortecido.
Era meio dia! Ao longe, uma mocinha graciosa vinha deambulando pela estrada deixando que o vento ondulasse os seus belos e pretos cabelos lisos. De olhos enxutos mas com a água a escorrer por entre os pelos loiros das raras e esguias barbas, João sentou-se, calmamente, debaixo do salgueiro junto ao penedo que ladeia a margem direita do rio. Ao vê-lo, um sorriso delicioso encheu de brilho o olhar de Maria enquanto, brandamente, poisava a pequena cesta e estendia sobre a densa folhagem seca um lindo pano de linho fino, bordado a preceito, debaixo do que a pequena panela da sopa fumegava um cheiro tão saboroso que enchia de gozo as bocas mais insípidas e amargas.
Os momentos do almoço passaram, mudos e velozes! E, enquanto a jovem se apressava no regresso ao lar para continuar junto da mãe as cansativas lides caseiras, João, de olhos presos naquele mimoso esmero da Natureza ia cavando e pensando se não seria esse formoso rebento a esposa amada que sonhava um dia encontrar… para lhe mimar a lenta e sequiosa agonia dos dias!...

Hermínia Nadais