Foi muito bonito e bom o meu Natal, que
espero venha a ser de todos os dias!
Mas hoje, quando a noite acabou o relógio
disse que eram horas de sair!
Levantei-me… à escuta de uma lamúria
quase imperceptível, acompanhada de alguns suspiros reprimidos e abafados ais!
Saí a ver, apressada! Era a toalha xadrez
que, depois da longa ribalta com cozinha repleta e mesa a transbordar, se vê agora
prestes a descer à gaveta fechada, monótona, mofada e fria, à espera de que os
membros da família, agora ausentes pelos afazeres profissionais na busca de
melhor vida se possam juntar de novo para confraternizarem enchendo os
estômagos e a vida da mais fulgente alegria, boa disposição, ternura, fraternidade,
amizade, carinho e muito amor!
Então, afagando-a, lhe respondi: “És
muito linda minha toalhinha, não chores! Eu também fiquei aqui sozinha com o
meu cara metade, os dois, neste casarão frio e nu. Eu vou deixar-te aqui mais
um pouquinho! Ainda hoje vamos almoçar sobre ti, minha linda, assim, branca de
neve e verde de esperança! Aceita a tua vida… assim como eu aceito a minha, pois
é com ela que temos de viver!”
De corrida, fomos à Missa… e no final
arranjei o almoço que minha sogra, filha e netos, vieram partilhar.
Entretanto, aos poucos, a toalhinha verde
e branca deixou de chorar! E quando, no final da refeição, a enrolei para
sacudir, pareceu sorrir para mim como que a dizer: “Tens razão, amiga! As
pessoas são livres de viver como e onde podem ou precisam, e nós temos de
respeitar as suas vidas com todos os seus quereres e opções! Não te preocupes
que não mais me irei lamentar!”
E foi assim que ficou à espera de ser
lavado e cuidada para, depois de algum tempo de espera, se apresentar outra vez
na mesa com a frescura de uma flor acabada de cortar… para cortejar aqueles amigos
que a retiram da solidão e lhe dão espaço ao ar livre e à luz do dia… e me
enchem de muito… muito gozo e imensa felicidade!
Hermínia Nadais